"O meu Deus é fraco e frágil. A onipotência dele é estranha", escreve Tonio Dell'Olio, presidente da Pro Civitate Christiana, em artigo publicado por Mosaico di Pace, 27-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Proponho a releitura daquelas famosas linhas de A Noite de Elie Wiesel:
"Meus olhos se abriram e eu estava sozinho, terrivelmente sozinho em um mundo sem Deus, sem o homem. Sem amor ou misericórdia. Eu não era nada além de cinzas agora, mas eu me sentia mais forte do que esse Todo-Poderoso a quem minha vida tinha sido obrigada por tanto tempo" (A noite, p 70).
Uma condenação incontornável da indiferença de Deus ou mesmo da complacência com que suportava a crueldade daqueles homens e não via a miséria daqueles outros.
E então chega aquele dia terrível em que o “pipel” holandês de 13 anos é enforcado. Debaixo de sua cama encontraram armas bem escondidas e aquele garoto com cara de anjo infeliz, mesmo sob tortura, havia se recusado a citar nomes.
Foi enforcado no campo da Buna e todos foram obrigados a passar em frente daquele corpo que agonizou durante mais de meia hora devido ao pouco peso que não lhe permitia a morte instantânea. Um dos presos, forçado a passar pelo corpo pendurado, murmurou a pergunta que habitava a consciência de cada um: "Onde está Deus?". “Então onde está Deus? E eu sentia – escreve Wiesel – uma voz dentro de mim que lhe respondia: Onde está? Aqui está: está pendurado ali, naquela forca” (p 67).
O meu Deus é fraco e frágil. A onipotência dele é estranha. Não é ausente e silencioso. É solidário. Aliás, é aquele garoto.
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